Trandutor

terça-feira, 21 de julho de 2020

A Grécia Antiga

POSTAGEM 55

A Grécia antiga, está, situada ao sul da península Balcânica, na Europa, que começou a ser colonizada por volta do ano 2000 antes de Cristo, passou por fases muito diferentes ao longo de sua história. Cada uma dessas fases foi importante para a constituição da assim chamada “civilização grega”, fundamental para a formação cultural do Ocidente, já que moldou em boa medida o modo de pensar do homem ocidentalDa democracia à valorização do esporte, passando pelo teatro, pela literatura, pela filosofia e pela própria ideia de liberdade. O pensamento ocidental estão fortemente marcados pela criatividade e pelo gênio grego antigo.

Desde a origem do povo grego até a conquista do seu território por Roma, no século II antes de Cristo, a Grécia passou por cinco períodos distintos, classificados pelos historiadores da seguinte forma: período micênico, período obscuro, período arcaico, período clássico e período helenístico.



Período micênico (de 1600 a 1100 antes de Cristo)

No período micênico, o território hoje chamado de Grécia estava dividido em várias e dispersas comunidades, cada uma delas centralizadas num palácio e seu rei – basileus, em grego –, que era ao mesmo tempo o líder político, militar, religioso e econômico do lugar. As principais comunidades, nessa época, são Micenas – a maior delas e a mais explorada pela arqueologia, de onde deriva o nome desse período da história grega –, Tirinto, Pilos, Tebas e Esparta.


Era uma sociedade de guerreiros. O rei, em seu palácio, dominava toda a vida da comunidade amparado por uma corte de nobres. Estes, por sua vez, não eram pacatos cidadãos dedicados a uma vida de prazer e luxúria. Antes, eram bravos guerreiros sempre em busca da conquista de mais territórios e riquezas. Não sair à luta, à procura de grandes façanhas, representava uma atitude indecorosa e indigna para homens livres como eles. Era assim, através da guerra, que eles conquistavam para si a honra e a glória, os grandes valores da época.

Já nesse período inicial da formação da civilização grega há uma rica atividade cultural e econômica. Conhece-se a escrita – que os especialistas chamam de Linear B, uma forma muito rudimentar do idioma grego –, é produzida uma sofisticada cerâmica e se pratica um intenso comércio marítimo. A mitologia ostenta os mesmos deuses que influenciarão profundamente os gregos ao longo dos séculos – entre eles, Zeus, Apolo e Atena –, com algumas diferenças: Possêidon, por exemplo, que é conhecido até hoje como o deus dos mares, no período micênico era um deus terrestre, abençoador da agricultura e das colheitas.

Foi no período micênico que ocorreu a famosa guerra de Troia. Segundo a mitologia, essa guerra colocou em combate as cidades gregas contra a cidade de Troia, na costa da atual Turquia, do outro lado do mar Egeu. Foi causada pelo fato de Helena, esposa de Menelau, rei de Esparta, ter ido para Troia com Páris, também chamado de Alexandre, um príncipe troiano. Não se sabe ao certo se ela foi raptada ou se foi de boa vontade, movida pela paixão por Páris. Seja como for, ela deixou Esparta e se instalou em Troia, causando a ira de Menelau, que convocou os reis das demais cidades gregas para, com seus exércitos, partir para Troia e recuperar Helena. Comandados por Agamêmnon, rei de Micenas e irmão de Menelau, os gregos venceram a guerra depois de dez anos de lutas e combates sangrentos.

A vitória sobre os troianos se deu graças a um astucioso plano dos gregos. Estes construíram um imenso cavalo de madeira e, dentro dele, esconderam dezenas de soldados gregos. Num certo dia, deixaram o cavalo diante de Troia e se retiraram com seus navios. Vendo isso, os troianos pensaram que os gregos tinham desistido da guerra e deixado um presente, como um reconhecimento pela vitória troiana. Abriram os portões da cidade, trouxeram o cavalo para dentro e começaram a festejar. De madrugada, quando os troianos estavam bêbados de tanto celebrar a suposta vitória, foi fácil para os soldados gregos sair do cavalo, matar os troianos e conquistar a cidade. Note-se que desse episódio vem a hoje famosa expressão “presente de grego” – como se chama aquele presente que só traz problemas para quem o recebe.

O fim do período micênico aconteceu, possivelmente, por causa da invasão dos dórios, um povo guerreiro e rude que, vindo da Europa central, penetrou na Grécia e destruiu tudo o que encontrou pela frente, sem deixar pedra sobre pedra. Os palácios micênicos e seus reis desapareceram para sempre e, com eles, a rica civilização que florescera no mundo grego ao longo de cinco séculos. Isso determinou o início de um novo período da história grega antiga.

Período obscuro (de 1100 a 900 antes de Cristo)

A destruição provocada pelos dórios foi de tal proporção que causou uma profunda depressão econômica e cultural no mundo grego. A escrita desapareceu – já que os dórios eram ágrafos, ou seja, desconheciam a escrita –, o comércio marítimo cessou e a rica cerâmica micênica deu lugar a uma cerâmica pobre e rudimentar. A agricultura perdeu o vigor – causando a escassez e a fome – e a população diminuiu. A estagnação foi tão grave que há poucos testemunhos materiais capazes de dar informações mais precisas sobre essa época. Devido a essa falta de dados e à baixa atividade cultural e econômica, os especialistas denominam esses dois séculos da história grega de “período obscuro”, “período das trevas” ou ainda “idade das trevas”.

Ao final desse período, aconteceu um fenômeno que traria importantes consequências para o mundo grego. Em diferentes pontos do território da Grécia, um grupo de aldeias se reuniu para formar uma cidade – o que os especialistas chamam de  cinecismo (o movimento de união de aldeias que dá origem a cidades). Isso causou um “renascimento” das atividades econômicas e culturais, mudando a configuração social e política e introduzindo uma nova era no mundo grego antigo.

Período arcaico (de 900 a 508 antes de Cristo)

Ao entrar no chamado período arcaico, a Grécia apresenta uma configuração completamente diferente. Não existem mais os palácios, destruídos pelos dórios. O que predomina agora são as póleis (no singular, pólis), as cidades-estado. Estas são comunidades autônomas e independentes, que possuem, cada uma delas, o seu próprio governo e legislação – embora estejam unidas pela mesma cultura, pois em todas elas se fala a língua grega e se cultuam os deuses do panteão grego.

Inúmeras póleis se desenvolvem nesse período, como Atenas, Corinto e a já citada Esparta. Além disso, dá-se um importante movimento migratório, em que colônias gregas são fundadas em várias regiões do mar Negro e do Mediterrâneo, desde as costas da Ásia Menor (atual Turquia) até o sul da Itália (chamada na Antiguidade de Magna Grécia). Ainda que ligadas, em alguns casos, às suas cidades de origem, essas colônias se constituirão como cidades-estado independentes e autônomas. Embora as guerras continuem existindo, a vida grega assume um caráter menos militar e mais civil.

 Isso não vale para Esparta – que se manterá fiel ao militarismo –, mas explica bem o desenvolvimento de Atenas, que mais tarde se transformará no maior centro irradiador de cultura do mundo antigo. Nessa época,

 Atenas é uma cidade oligárquica, comandada por um conselho de anciãos reunidos no Areópago, então o principal órgão executivo da pólis. É o Areópago que, sediado na colina de Ares, comanda os destinos de Atenas. Herdeiros dos antigos reis micênicos, os nobres, já retirados da guerra, agora canalizam seu espírito guerreiro para a competição esportiva.

 A prática de esporte será tão valorizada pela nobreza que dará origem a grandes jogos, reunindo gregos de todas as regiões e cidades, mesmo aquelas que são inimigas. Entre essas competições contamse os Jogos Píticos (realizados em Delfos, em honra ao deus Apolo), os Jogos Ístmicos (promovidos em Corinto, em louvor do deus Possêidon) e o mais importante deles, os Jogos Olímpicos, que ocorriam a cada quatro anos na cidade de Olímpia em honra a Zeus.

A primeira edição dos Jogos Olímpicos aconteceu em 776 antes de Cristo. A honra e a glória continuarão a ser – como acontecia no já longínquo período micênico – os grandes valores do mundo grego arcaico. Todo nobre tem a obrigação de conquistá-las. Porém, essa conquista não se dará mais na guerra, no campo de batalha, visto que a época das grandes façanhas heróicas já passou. Agora, obtém-se a honra e a glória através da competição esportiva.

 O cidadão valoroso, o nobre da mais fina estirpe passa a ser aquele que derrota mais adversários na arena esportiva. Na área da literatura, o período arcaico assiste ao surgimento de duas obras da mais alta importância para a cultura grega e para a história do Ocidente. Está-se referindo à Ilíada e à Odisseia, dois poemas épicos atribuídos ao mesmo autor,

 Homero. Embora essa autoria seja controversa – há autores que defendem que Homero nem mesmo existiu –, o fato é que a Grécia antiga legou à posteridade esses dois poemas que moldarão a forma de pensar dos gregos e influenciarão todos os grandes escritores e artistas modernos e contemporâneos, desde Shakespeare, na Inglaterra, até Goethe, na Alemanha, e Machado de Assis, no Brasil.

A Ilíada é um relato da guerra de Troia. Suas páginas são uma sequência de sangrentas batalhas entre gregos e troianos, além do registro da ação dos deuses na guerra, uns (como Apolo) em favor dos troianos, outros (como Atena) do lado grego. Acima de todos está Zeus, fustigado por sua esposa Hera e apoiando ora os soldados. gregos, ora Troia. Conhecidos por intermédio de outras fontes, os episódios sobre a partida de Helena para Troia e sobre o cavalo dado “de presente” para os troianos, que determinou a vitória dos gregos, não se encontram na Ilíada, que prioriza as ações do guerreiro grego Aquiles.

 Este, irritado com um insulto que lhe foi imposto por Agamêmnon, se retira da guerra, o que faz com que os gregos percam terreno no campo de batalha. Só depois que Aquiles retorna aos combates, insuflado pelo ódio a Heitor, que matara seu amigo Pátroclo, é que a situação se inverte e os gregos passam a ter vantagem.

 Já a Odisseia conta o retorno de um dos guerreiros gregos que lutaram na guerra de Troia, Ulisses, rei de Ítaca, para sua casa. Essa viagem de Troia para Ítaca é tão cheia de aventuras que o herói leva dez anos para completá-la. Ao longo do caminho, Ulisses – também chamado de Odisseu – enfrenta inúmeros desafios. Um deles responde pelo nome de Ciclope, o gigante de um olho só.

 Ulisses e seus amigos são presos no fundo de uma caverna por Ciclope, que tem o estranho hábito de, ao final do dia, se alimentar dos prisioneiros. Antes de se ver comido pelo gigante, Ulisses – famoso não só pela sua imensa força física, mas também pela inteligência e esperteza com que se livra de situações difíceis – concebe um plano para se libertar. Ele percebe que o seu anfitrião conserva uvas no fundo da caverna. Com elas, produz um delicioso vinho, sem misturas, puro extrato de uva, com alto teor alcoólico.

Oferece ao gigante, que não conhece a bebida e, desconfiado, dá o primeiro gole. Ele percebe então a delícia desse líquido dos deuses e exige mais. Ulisses enche o copo do Ciclope quantas vezes este deseja, até que, dominado pelo álcool, o gigante cai desacordado, com um grande estrondo. Ulisses se aproveita da situação para, com a ajuda de seus amigos, enfiar com força um afiado tronco de árvore no olho do gigante, que se levanta cheio de dor, abre a caverna e sai correndo em busca de alívio.
E dessa forma Ulisses e seus companheiros ficam livres.

É interessante perceber que, embora tenham surgido no período arcaico, a Ilíada e a Odisseia estão repletas de referências a uma época muito mais antiga, o período micênico. Reis e palácios, que aparecem em abundância nas duas obras – Menelau é rei de Esparta e Ulisses é rei de Ítaca, por exemplo –, são típicas instituições micênicas, que, como vimos, não existem mais no período arcaico, em que predominam as cidades. É por isso que as obras de Homero constituem uma importante fonte de conhecimento do mundo micênico para os historiadores e arqueólogos, pois certos aspectos e características daquele mundo só se encontram na Ilíada e na Odisseia.

 Outros grandes poemas surgiram no período arcaico. Por volta do ano 700 antes de Cristo, Hesíodo compôs Teogonia e Os trabalhos e os dias. O primeiro conta a origem dos deuses e o segundo registra preceitos morais e conselhos práticos sobre o trabalho na agricultura. Poucos séculos mais tarde, ainda no período arcaico, há o desenvolvimento da poesia lírica – assim chamada por se referir a versos para serem cantados ao som da lira. De forma inédita para o pensamento grego – acostumado com os grandes poemas épicos de Homero, que retratam as façanhas de heróis e deuses –, os poetas líricos vão expressar seus próprios sentimentos, revelar sua intimidade e destacar sua individualidade. Exemplo dessa expressão são os poemas de Safo, que viveu na ilha de Lesbos, provavelmente a maior poetisa do mundo antigo, de cuja obra restam apenas poucos fragmentos.

 Um desses fragmentos, que dá uma boa ideia da beleza da arte de Safo, são os versos a seguir, que a poetisa, com ciúmes, dedicou à sua amante, Átis, após esta se apaixonar por um jovem:

Para mim é semelhante aos deuses
o homem que sentado ao teu lado ouve de perto a tua doce fala
e o teu sorriso desejável

que me fazem bater o coração
 no fundo do meu peito. Porque
 quando te vejo um instante que seja
 as palavras me faltam,
 minha língua parte-se e de repente
 corre-me sob a pele um fino fogo,
 nada mais conseguem ver meus olhos,
 zumbem-se os ouvidos inunda-me o suor, agita-me toda
 um tremor, fico mais pálida que a erva
 e em minha loucura quase pareço uma morta"2

2 Tradução de Guilherme de Almeida, citado por Gilda Naécia Maciel de Barros em Sólon de Atenas – A cidadania antiga, p. 37.

Entre os mais famosos poetas líricos contam-se ainda Tirteu, Arquíloco, Píndaro, Simônides, Teógnis e Sólon. Este último merece atenção especial, pelo que representou para a história de Atenas, sua cidade.

 Acontece que Sólon de Atenas não foi apenas um poeta lírico, mas também legislador. Em 593 antes de Cristo, eleito arconte – o principal cargo da cidade –, ele criou leis que, embora na sua época tenham gerado poucos efeitos práticos, são o ponto de partida para o nascimento, quase cem anos depois, desse regime de governo tão valorizado hoje chamado democracia.

 Uma dessas leis permitia que os mais ricos cidadãos atenienses fossem indicados para o Areópago e participassem do governo da cidade, antes uma exclusividade da nobreza. A nova legislação não provocou mudanças imediatas, pois na época os mais ricos eram os mesmos nobres detentores do poder. No entanto, ela abriu caminho para que, a partir de então, cidadãos comuns, sem sangue real, que se destacavam em suas atividades comerciais e enriqueciam, ocupassem os mais altos cargos políticos. 

Sólon concedeu à Assembleia dos cidadãos – a Ekklesía, em grego, da qual todos podiam participar – a incumbência de eleger magistrados e fortaleceu o tribunal popular (Heliéia), também composto por homens do povo. Criou ainda a Boulé, um conselho de 400 membros responsável pela organização e direção das sessões da Ekklesía. Outra medida de Sólon foi a proibição da escravidão por dívidas, garantindo a integridade física do indivíduo, o que está na base do moderno direito de proteção ao ser humano. Graças a essa atuação, Sólon é conhecido como o “pai da democracia”, embora não estivesse em seu horizonte, em nenhum momento, instituir um governo “do povo”.

 Depois de Sólon, Atenas experimentou décadas de tirania – forma de governo em que o principal mandatário assume o poder pela força e, para governar, se apóia nas classes menos favorecidas do povo. Mas, apesar da desconfiança dos gregos em relação ao tirano Pisístrato, que dirigiu Atenas de 561 até 527 antes de Cristo – excetuando dez anos em que viveu exilado –, este soube conduzir bem os destinos da cidade, a se acreditar no testemunho de autores antigos.

Segundo esses autores, Pisístrato manteve em vigor as leis de Sólon, foi o primeiro a orientar os negócios de Atenas para o mar Egeu, deu início às importações de trigo – do qual Atenas será sempre dependente – e, para pagar o cereal, promoveu o desenvolvimento da cerâmica ateniense e mandou cunhar as primeiras moedas com a efígie de Atena – as famosas “corujas”. Também estimulou o cultivo da oliveira para a produção de azeite, um dos principais produtos de exportação atenienses. E mais: ordenou a construção dos primeiros templos na Acrópole de Atenas (a parte alta da cidade), criou festivais como as Grandes Dionisíacas e parece ter sido o responsável pela compilação e edição escrita da Ilíada e da Odisseia, de Homero, até então transmitidas oralmente.

 Depois da morte do tirano, seus filhos Hípias e Hiparco governaram Atenas por mais 17 anos, sem o mesmo brilho e eficiência do pai, até que foram destituídos em 510 antes de Cristo. A queda da tirania e a ascensão de Clístenes – o líder que, em 508, tomará medidas consideradas essenciais para o nascimento efetivo da democracia em Atenas – podem ser consideradas o marco que define o fim do período arcaico e o início do período clássico.

Período clássico (de 508 a 338 antes de Cristo)

As reformas de Clístenes no governo de Atenas marcam o nascimento da democracia. Embora não tenha esse nome – a expressão demou krátos (poder do povo) parece ter surgido algumas décadas depois –, o regime inaugurado por Clístenes se caracteriza pela isonomia, ou seja, pela igualdade de todos perante a lei, princípio democrático fundamental. Para garantir essa isonomia, o líder ateniense fortaleceu a Assembleia dos cidadãos, a Ekklesía, na qual todos tinham direito de se expressar e votar livremente, e instituiu o sorteio e eleições como forma de preencher os cargos públicos. Para preservar o regime, criou o ostracismo, uma forma de punição que condenava a dez anos de exílio quem atentasse contra as instituições da cidade.

Além disso, Clístenes mudou a organização social de Atenas, antes baseada em quatro tribos formadas pelos antigos nobres. A cidade passou a ser dividida em dez tribos, cada uma delas composta por três trítias (formadas por cidadãos advindos das três áreas geográficas de Atenas: a cidade, a costa e a montanha). As trítias, por sua vez, se subdividiam em vários demos, a unidade política e administrativa da polis ateniense, em que todo cidadão deveria estar registrado. Clístenes também elevou para 500 o número de membros da Boulé – o conselho criado por Sólon para dirigir as sessões da Assembleia dos cidadãos –, sendo 50 de cada uma das dez tribos.

 Essa nova organização, racional e matemática, enfraqueceu a influência política das famílias aristocráticas e deu o primeiro impulso para a consolidação do poder popular em Atenas.

Outro fator que favoreceu a democracia em Atenas foram as chamadas Guerras Médicas – as batalhas travadas pelas cidades gregas contra um inimigo comum, o império medo-persa, a Pérsia. Ao longo de décadas, houve vários conflitos que opuseram gregos e persas. Os mais famosos são as batalhas de Maratona, Salamina e Plateias, ocorridas respectivamente nos anos 490, 480 e 479 antes de Cristo, todas elas vencidas pela Grécia, que conseguiu afastar o inimigo de seu território para sempre – embora ele continuasse a representar para os gregos uma ameaça, mesmo que distante.

Uma das principais consequências das Guerras Médicas foi o fortalecimento de Atenas, que saiu dos conflitos como a maior potência do mundo grego. Em 477 antes de Cristo, com a justificativa de se preparar para evitar novas agressões da Pérsia, as cidades gregas fundaram a Confederação de Delos, sob a liderança de Atenas. Cada membro da liga, sediada na ilha de Delos, no centro do mar Egeu, passou a fornecer tropas, navios e recursos financeiros para a aliança. Anos depois o tesouro da Confederação foi transferido para Atenas, que com esses recursos reconstruiu o porto do Pireu e edificou templos e edifícios, transformando e remodelando a paisagem urbana. Em 462 antes de Cristo, Atenas desfere um “golpe de misericórdia” no já enfraquecido poder das famílias aristocráticas e confirma definitivamente sua vocação democrática. Aquele foi o ano em que Efialtes, um dos líderes da cidade, propôs nova  reforma das instituições de Atenas, transferindo as principais atribuições do Areópago para a Assembleia dos cidadãos e os tribunais populares.

 Ao velho conselho de anciãos – outrora a mais poderosa instituição da polis – cabia agora julgar apenas casos de homicídio e crimes religiosos. À Ekklesía e aos tribunais populares foi entregue todo o poder. A democracia alcançava o seu auge. Cada vez mais, o povo passou a comandar os destinos de Atenas. Todas as decisões – desde as mais simples às mais complexas e importantes – eram tomadas na Assembleia dos cidadãos, que se reunia uma vez por mês numa colina chamada Pnix e, calcula-se, podia reunir cerca cinco mil pessoas por sessão.

As sessões da Ekklesía funcionavam da maneira seguinte. Qualquer cidadão podia fazer uma proposta para a cidade – por exemplo, a construção de um teatro –, que era entregue à Boulé, o conselho de 500 membros encarregado de organizar os encontros da Assembleia e elaborar a pauta do dia. Na sessão marcada para discutir a proposta, eram convocadas as pessoas que desejavam falar a favor da construção do teatro e aquelas contrárias a essa medida, a fim de convencer os cidadãos a votar desta ou daquela forma. Todos os que quisessem discursar, a favor ou contra, tinham esse direito garantido. Ninguém podia ser impedido de falar, por qualquer motivo que fosse. Note-se que essa é a origem de algo muito prezado nas democracias modernas – a liberdade de expressão.

 Depois que os oradores terminavam de discursar, procedia-se à votação da proposta, que era feita com os cidadãos levantando uma das mãos. Contavam-se os votos favoráveis e os votos contrários. A maioria ganhava a votação e sua decisão era cumprida. Sem nada parecido com um rei, um presidente ou um prefeito, era assim que Atenas decidia todas as questões relativas à cidade.

Não é de estranhar, portanto, que a retórica – a arte de convencer através do discurso – tenha se desenvolvido imensamente em Atenas e nas demais cidades democráticas da Grécia, pois através dela é que se determinavam os destinos da polis. Não espanta também o alto conceito de que gozava, nessas democracias, a figura do orador, especialmente o grande orador, aquele que conseguia convencer mais cidadãos e ganhar as disputas retóricas na Assembleia. Tanto que os principais valores da época, os mesmos que desde sempre moldaram o imaginário grego – a honra e a glória –, passaram a ser conquistados não mais através da guerra, como acontecia no período micênico, ou da competição esportiva, como ocorria no período arcaico, e sim através da vitória na Assembleia dos cidadãos.

 Mas a época de maior esplendor de Atenas ainda estava por vir. A cidade teve a feliz oportunidade de contar com a liderança de um estadista notável, Péricles. Político e orador brilhante, Péricles era reconduzido anualmente, pelos cidadãos, à função de estratego – o comandante militar. Nesse cargo, ele dominou a cena política de Atenas e conduziu os rumos da cidade durante mais de uma década. Sua atuação exerceu tal influência sobre a história grega que o século V antes de Cristo – época em que transcorreu a vida de Péricles – é conhecido como “o século de Péricles”.

Foi o período de máximo esplendor da história de Atenas. A cidade se transformou, então, na maior potência marítima e comercial do mundo antigo. O Pireu se tornou um movimentado ponto de chegada e partida de navios das mais distantes regiões, que transportavam variados produtos e geravam riquezas. Sempre sob a liderança de Péricles, foi iniciada a construção de suntuosos templos na Acrópole, entre eles o Pártenon, dedicado à deusa Atena, protetora da polis, até hoje o símbolo mais famoso de Atenas.



acesso em 21/07/2020 ( terça feira )



As artes se desenvolvem de forma sem precedentes. Com suas riquezas, cosmopolitismo e dinamismo, Atenas atrai os principais escultores, filósofos e escritores. É a época também em que brilham os grandes dramaturgos gregos, Ésquilo, Sófocles e Eurípedes, que produziram imortais dramas teatrais – as famosas tragédias.

É interessante perceber o desenvolvimento da tragédia grega na obra desses três grandes autores, que alteram sua temática de acordo com o espírito do tempo. Em Ésquilo, por exemplo, o mais velho deles, de quem restaram sete peças – entre elas a trilogia Oresteia –, predominam temas ligados à antiga mitologia, em que o poder dos deuses, infinitamente superior ao dos homens, é exercido implacavelmente contra os crimes e o orgulho humano. Já Sófocles – influenciado pelo pensamento filosófico que, em sua época, se voltava para temas como a moral, o bem e o mal – reproduz preocupações mais humanas.

 É dele, por exemplo, a tragédia Antígona, uma de suas sete peças restantes, que questiona a superioridade das leis escritas sobre a lei não-escrita, eterna, imutável, que habita no interior mais profundo de cada pessoa. Diante do decreto do rei de Tebas, Creonte, que proibia o sepultamento do corpo de Polinices – morto ao tentar se apoderar do trono tebano – a fim de intimidar os revoltosos e impedir novas tentativas de sublevação, Antígona, irmã de Polinices, se levanta contra a determinação real. Para justificar sua ação, alega que não pode deixar de cumprir aquela ordem inapelável do seu coração – dar um destino digno ao seu irmão de sangue –, ainda que essa ordem viole a lei instituída.

As dezoito peças que restaram de Eurípides, por sua vez, têm como tema predominante as paixões humanas, bem ao gosto da sociedade ateniense da época, marcada pelo individualismo e pelo relativismo – de que se falará adiante.

 Paralelamente à tragédia, Atenas assiste também ao desenvolvimento da comédia, gênero do qual o grande representante é Aristófanes. Um crítico conservador da sociedade de seu tempo, Aristófanes usa o teatro cômico para combater as novas ideias surgidas com a ascensão da democracia e para criticar os dirigentes da cidade.

Uma de suas onze peças conhecidas, Os cavaleiros, ridiculariza os políticos democráticos que substituíram os homens de fina estirpe do passado. Nela, o Salsicheiro – que representa Cléon, o líder que substituiu Péricles quando este morreu, em 529 antes de Cristo – se mostra preocupado por ter que assumir a chefia da cidade:

Salsicheiro – Diga-me, como eu, um comerciante de chouriço, me tornarei um “personagem”? Primeiro Escravo – Precisamente por isso que tu te tornas grande: porque és um patife, um vagabundo, um insolente."3

O diálogo continua:

Salsicheiro – Mas, meu caro, não tenho a mínima instrução. Conheço as primeiras letras, e ainda bem pouco, bem mal. Primeiro Escravo – Teu único erro é conhecê-las, mesmo “bem pouco, bem mal”. Dirigir o povo não é para homens instruídos e de bons modos, mas para um ignorante, um tratante. Vamos, não despreza o que os deuses te oferecem nos seus oráculos."4

3 Aristófanes, Os cavaleiros, 180. 4 Aristófanes, obra citada, 190. 

É chegado o momento de falar do filósofo Sócrates, contemporâneo de Aristófanes e dos outros grandes dramaturgos gregos. Nascido em Atenas, Sócrates foi condenado à morte pelo tribunal popular da cidade, sob a acusação de corromper a juventude e de não acreditar nos deuses. Sentenciado a beber cicuta – um poderoso veneno extraído de uma planta nativa da região do Mediterrâneo –, ele morreu em 499 antes de Cristo.

 Obviamente, a acusação foi um mero pretexto usado por inimigos do filósofo para colocá-lo fora de cena. E Sócrates fizera muitos inimigos – não por seu temperamento, mas pelas perguntas que elaborava e pelo constrangimento que estas geravam em seus interlocutores

Acontece que Sócrates, ao contrário dos filósofos gregos que vieram antes dele e que são considerados os fundadores do pensamento filosófico – entre eles, Tales de Mileto, Anaximandro e Xenófanes –, não estava preocupado com o movimento dos astros celestes, a composição da matéria e a origem do universo. Antes, dedicava-se a investigar o ser humano e suas ações. Em busca desse conhecimento, percorria as ruas e praças atenienses à procura de alguém que respondesse a questões como “O que é a justiça?”, “O que é o bem?”, “O que é o mal?” e “O que é o amor?”.

 Diante de um general acostumado à guerra, por exemplo, perguntava: “O que é a coragem?”. O militar, plenamente convicto de que sabia a resposta, dizia: “Coragem é quando vou para o campo de batalha e não recuo enquanto não destruo o inimigo”. Sócrates replicava que essa resposta não é a definição de coragem nem revela a essência do que é coragem, mas apenas oferece um exemplo dessa virtude. Sócrates queria saber o que é, na sua essência, a coragem. Ao final do diálogo, o interlocutor descobria que, de fato, ele não conhecia aquilo que há poucos minutos tinha certeza absoluta de que conhecia. Certamente, essa prática de minar as convicções das pessoas – e isso em plena praça pública, diante dos olhares de todos os demais cidadãos – criou muitas inimizades, e foi o que levou à condenação e morte de Sócrates. No entanto, o filósofo legou à posteridade a ideia de que a razão humana é extremamente limitada diante da inesgotável realidade à sua volta e de que o homem não conhece plenamente as coisas – mesmo que esteja cheio de convicções e certezas absolutas.

Mas essa não foi a única contribuição de Sócrates. O filósofo deve ser considerado também o patrono de todos os verdadeiros mestres, professores e educadores. Isso em razão de sua “didática”. Pois Sócrates era um mestre que não tinha como objetivo fazer com que os discípulos pensassem como ele mesmo pensava ou que agissem como ele mesmo agia. Antes, buscava desenvolver nos aprendizes o que estes tinham de melhor dentro deles – seus dons e talentos. A tarefa do mestre, segundo essa perspectiva socrática, é estimular o desenvolvimento da imensa riqueza que cada um traz dentro de si, o que contribui para a sua plena realização como ser humano. Algo bem diferente da educação moderna, voltada para incutir no aluno conteúdos supostamente úteis para a sua atuação na sociedade.

 A condenação e a morte de Sócrates, no início século IV antes de Cristo, parecem simbolizar a decadência de Atenas, que nessa época começa a dar os primeiros sinais. A cidade já sofrera um duro golpe com a vitória de Esparta na Guerra do Peloponeso, longo conflito que, entre 431 e 404 antes de Cristo, opôs atenienses e espartanos. Atenas terminou a guerra arrasada e empobrecida, tentando, com dificuldades, se reerguer.

Outro fator que contribuiu para que Atenas perdesse o brilho de outrora foi o movimento sofístico. Surgidos na segunda metade do século V antes de Cristo, os sofistas eram oradores e professores de retórica que percorriam as cidades gregas oferecendo seus ensinos, mediante pagamento, para jovens que queriam aprender a arte de discursar, a fim de se destacar nas Assembleias dos cidadãos.

 Os mais famosos sofistas foram Protágoras, Górgias, Hípias e Pródico. Os sofistas não apenas ensinavam técnicas retóricas. Junto com elas, transmitiam também suas ideias, revolucionárias para a época. Essas ideias são marcadas pelo relativismo em todas as áreas, seja na moral, na religião ou no direito. Para os sofistas, não existe uma verdade absoluta. O que é moral em Atenas é imoral em Esparta. A existência dos deuses e sua interferência na vida humana não podem ser provadas, portanto estão sujeitas à dúvida. Há sempre que se fazer uma distinção entre o que é natureza e o que é cultura, produzida pela sociedade. Tudo o que for cultura – as leis escritas, por exemplo – poderá ter a validade contestada. Afinal, o homem que instituiu uma norma no passado não é superior ao homem do presente, que por isso pode revogar a antiga legislação e instituir uma nova regra. Certamente, tais conceitos contribuíram para ruir os fundamentos éticos, morais e religiosos em que a sociedade ateniense estava firmemente assentada.

Por fim, há ainda outra explicação para a decadência de Atenas: a radicalização da democracia. Depois de 150 anos vivendo sob o regime democrático, os cidadãos parecem ter confundido liberdade com falta de responsabilidade, igualdade com irreverência, direitos com indisciplina, pois se entregaram ao máximo gozo dos privilégios oferecidos pela cidade, esquecendo-se de suas obrigações. Desejavam todos os direitos – votar na Assembleia, ser iguais aos outros perante a lei, possuir ampla liberdade, ser honrados como cidadãos – sem os deveres, que incluíam contribuir financeiramente com a cidade, ir à guerra ao invés de enviar mercenários, respeitar as autoridades e ter disciplina.

 O resultado desse comportamento foi o mau funcionamento das instituições de Atenas, que jamais recuperou a força e o vigor da época de Péricles. Mas, embora a decadência de Atenas caracterize as últimas décadas do período clássico, isso talvez não seja válido para pelo menos um setor – o da cultura. Pois não se devem considerar decadentes uma época e um lugar que produziram filósofos como Platão e Aristóteles, dois dos maiores pensadores da história da humanidade.

Nascido em Atenas, Platão fundou em 387 antes de Cristo a Academia, uma escola de ensino superior que se dedicava a estudar todas as coisas, divinas e humanas, com total liberdade de pensamento. Esse conceito de ensino superior – estudar todas as coisas sem restrição de nenhuma espécie – se transformou no grande ideal das modernas universidades ocidentais, instituídas no século XII, na Europa, que nasceram justamente sob inspiração das ideias platônicas.

 Na Academia, Platão compôs os seus famosos Diálogos, entre eles A República, O Banquete, Fédon e Apologia de Sócrates. Nessas obras, em que os personagens conversam entre si – daí por que são chamados de Diálogos –, o filósofo expõe seu pensamento, sempre num estilo literário de rara beleza. Entre seus mais profundos conceitos está a teoria das Ideias, segundo a qual as coisas do mundo sensível são cópias efêmeras das Ideias perfeitas, eternas e imutáveis que se encontram no mundo das Ideias – e que podem ser acessadas através do pensamento, da reflexão, do raciocínio.

Já Aristóteles estudou durante vinte anos na Academia de Platão e se tornou o seu mais brilhante discípulo. Tendo divergido do mestre em alguns aspectos do pensamento, elaborou uma filosofia que, embora também considere a dimensão metafísica do mundo, está voltada e se faz a partir da realidade, das coisas materiais. Como expressa uma famosa comparação entre os dois filósofos, Aristóteles “baixou à terra” a filosofia platônica. Para explicar a origem das coisas sensíveis, por exemplo – que Platão identifica com as Ideias eternas –, Aristóteles concebe uma teoria que estabelece as “causas do ser”: a causa material (que causa a matéria do ser), a causa formal (que dá forma a essa matéria), a causa final (que se refere à finalidade do ser) e a causa eficiente (que gera todo esse processo).

 Enciclopédico, Aristóteles se dedicou ao estudo de várias áreas do conhecimento – desde a física e a biologia até a psicologia, a política, a poesia e a moral – e foi o fundador de uma delas: a lógica. Nascido em Estagira, cidade da Macedônia, e por isso às vezes chamado de “o Estagirita”, compôs, entre várias outras obras, Metafísica, Ética a Nicômaco, Física, Política, Retórica e Poética. Como o seu mestre, Platão, também fundou uma escola de ensino superior, a que deu o nome de Liceu, em 336 antes de Cristo.

Platão e Aristóteles não foram os únicos grandes personagens do final do período clássico grego. Outros vultos célebres dessa época foram Isócrates e Demóstenes. Isócrates foi um professor de retórica que exerceu forte influência sobre a política de Atenas. Demóstenes, considerado o maior orador da Antiguidade, foi um dos homens que mais lutaram – sem sucesso – para evitar o triste desfecho que se abateu sobre a outrora mais gloriosa polis da Grécia: a conquista da cidade por um “bárbaro”, Felipe II, rei da Macedônia, que há muitos anos acalentava o desejo de ser o senhor de todo o mundo antigo.

 No ano 338 antes de Cristo, o poderoso exército de Filipe venceu as tropas gregas na Batalha de Queroneia. Isso representou o fim da independência das cidades gregas, agora tornadas possessões da Macedônia, e determinou o término do período clássico. Uma nova era se desenhou diante do mundo grego antigo.

Período helenístico (de 338 a 146 antes de Cristo)

Dois anos depois da Batalha de Queroneia, Filipe foi assassinado por um dos seus soldados. Quem sucede o rei é seu filho, Alexandre, chamado “o Grande”.

 Imediatamente, Alexandre deu início à expansão do império herdado do pai. Com a Grécia já dominada, ele conquista mais e mais territórios. Primeiro, a Ásia Menor (atual Turquia), a Palestina, o Egito e o norte da África. Depois, a Pérsia – aquela que dera tanto trabalho aos gregos e sempre fora para eles uma grande ameaça –, a Mesopotâmia, os confins da Ásia. Alexandre chegou até as portas da Índia e só não prosseguiu, dando continuidade ao seu intenso desejo de conquistas, porque seus generais não aguentaram mais as viagens e os combates tão cansativos, ensaiaram uma rebelião e convenceram o grande conquistador a retornar.

Em todos os lugares que anexava ao seu vasto império, Alexandre disseminava a cultura grega, que ele admirava com paixão. Ele mesmo se considerava um novo Aquiles, o herói da Ilíada, de Homero, livro que o macedônio levava em suas expedições. Soldados da Macedônia se estabeleciam no lugar conquistado e ali formavam famílias. Isso fez com que, ao fim de algumas décadas, todos os territórios sob poder de Alexandre – desde a Grécia, no oeste, até a Mesopotâmia e a Ásia, no leste – compartilhassem a mesma língua e cultura gregas.

 Com isso, os valores predominantes nessa época continuarão a ser a honra e a glória – que perpassam toda a história grega antiga, como visto ao longo deste texto. Mas, de maneira surpreendente, constata-se que o modo de conquistar esses valores volta a ser o mesmo que movia os gregos no distante período micênico: a guerra. Não mais o esporte, não mais a retórica, mas a conquista de territórios e riquezas, num retorno ao mais antigo passado da trajetória grega.

 O período helenístico, portanto, se caracteriza pela expansão da cultura helênica pelo mundo antigo graças às conquistas de Alexandre, o Grande. Recebeu esse nome em referência aos “helenos”, como os gregos também eram conhecidos. É nesse período que se desenvolvem as chamadas filosofias helenísticas: o estoicismo, o epicurismo e o ceticismo. Mas a força maior do espírito e do pensamento grego já havia passado.

O final do período helenístico pode ser determinado pela conquista do império macedônio – então já fragmentado – pelos romanos, em 146 antes de Cristo. Era o término de uma gloriosa civilização que deixou profundas marcas na história e até hoje molda o pensamento e o agir da sociedade ocidental.

Bibliografia:

ARISTÓFANES. As nuvens, tradução Gilda M. R. Starzynski. São Paulo: Abril, 1972.
Os cavaleiros, tradução de Maria de Fátima de Sousa e Silva. Coimbra: Instituto Nacional de Investigação científica, 1991.
Pluto, tradução de Américo da Costa Ramalho. Coimbra: Instituto Nacional de Investigação Científica, 1982.
ARISTÓTELES. Metafísica, trad. de Marcelo Perine. São Paulo: Loyola, 2002
Poética, tradução de Eudoro de Souza. São Paulo: Abril, 1973.
Retórica, tradução de Manuel Alexandre Júnior, Paulo Farmhouse Alberto e Abel do Nascimento Pena. São Paulo: Martins Fontes, 2012.
 Retórica das paixões, tradução de Isis B. B. da Fonseca. São Paulo: Martins Fontes, 2000.
BARROS, GILDA N. MACIEL DE. Sólon de Atenas – A cidadania antiga. São Paulo: Humanitas, 1999.
BORDES, JACQUELINE. Politeia dans la pensée grecque jusqu’à Aristote. Paris: Les Belles Lettres, 1982.
HERÓDOTO. Histoires, traduit par E. Legrand, Paris, Société D’Édition Les Belles Lettres, deuxième édition revue et corrigée, 1949.
HESÍODO. Os trabalhos e os dias, tradução de Mary de Camargo Neves Lafer. São Paulo: Iluminuras, 1996.
Teogonia – A origem dos deuses, tradução de Jaa Torrano. São Paulo: Iluminuras, 1995
HOMERO. Ilíada, tradução de Octávio Mendes Cajado. São Paulo: Difusão Europeia do Livro, 1961.
 Odisseia, tradução de Antônio Pinto de Carvalho. São Paulo: Nova Cultural / Círculo do Livro, 1994
HOMO, LÉON. Périclès – Une expérience de démocratie dirigée. Paris: Robert Laffont, 1954. JAEGER, WERNER. Paidéia – A formação do homem grego, tradução de Artur M. Parreira. São Paulo: Martins Fontes, 1995, 3ª edição
JARDÉ, A. A Grécia antiga e a vida grega, tradução de Gilda Maria Reale Starzynski. São Paulo: EPU/Edusp, 1977.
 JONES, PETER V. O mundo de Atenas, tradução de Ana Lia de Almeida Prado. São Paulo: Martins Fontes, 1997.
LORAUX, NICOLE. Invenção de Atenas, trad. de Lílian Vale. Rio de Janeiro: Edit. 34, 1994. MOSSÉ, CLAUDE. A Grécia arcaica de Homero a Ésquilo, tradução de Emanuel Lourenço Godinho. Lisboa: Edições 70, 1989.
Atenas – A história de uma democracia, tradução de João Batista da Costa. Brasília: Editora da UnB, 1997, 3ª edição.
ROMILLY, JACQUELINE DE. Problèmes de la démocratie grecque. Paris: Hermann, 1975
PLATÃO. A República, tradução de Maria Helena da Rocha Pereira. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian, 1993, 7ª edição
Fedro, tradução de Carlos Alberto Nunes. Belém: Editora UFPA, 2011
 Górgias, tradução de Daniel R. N. Lopes. São Paulo: Perspectiva/Fapesp, 2011
 Protagoras, in The works of Plato, translated by Benjamin Jowett. New York, Modern Librar, 1956.
Sofista, tradução de J. Paleikat e J. Cruz Costa. São Paulo: Abril, 1972.
 Theaetetus, translated by Benjamin Jowett. New York: The Modern Library, s/d. PLUTARCO. Les vies des homes illustres, Démosthène, traduit par E. Talbot. Paris: Librairie Hachette, quatrième édition, 1905.
TAYLOR, LORD WILLIAM. Os micénios. Lisboa: Verbo, 1970.
TUCÍDIDES, História da Guerra do Peloponeso, tradução de Mário da Gama Curi. Brasília: Editora da UnB, 1999, terceira edição.
VERNANT, JEAN-PIERRE. As origens do pensamento grego, tradução de Isis Borges B. da Fonseca. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 1992, 7ª edição.



Nenhum comentário:

Postar um comentário

Café com Notícia 19 de Fevereiro 2021

Postagens do Blog